domingo, 23 de outubro de 2016

E o tanto que é bom!

E o tanto que é bom!

Sabe assim, quando a gente se arremessa,
Sem pressa; no espaço total da gente?
E sente que a alma absoluta; confessa,
Acessa os ‘eus’ com os ‘seus’ e a mente?

Sabe quando o espaço é o nosso modelo,
O cabelo ao rosto; a espalhar seu cheiro?
Canteiro de nuvens, estrela e zelo,
Apelo mudo, e quieto é o roteiro?

Sabe quando o laço topa no peito,
E o efeito causa a melhor sensação,
Sem noção a gente tira o pé do chão?

Então, tal dueto é mais que perfeito,
Ajeito-me, ajeita-se, a gente é um aço,
Entrelaço; o tanto que é bom o abraço!

Raquel Ordones  #Ordonismo

'Borboletras'

“Borboletras”

O casulo da letra então se parte,
E num encarte a outra letra se junta,
Assunta aqui e ali sem nenhum descarte,
A arte começa, em essência besunta.

Olha, a escrita desdobra uma só perna!
Da caverna coração se arrebenta,
Enfrenta o grafite, e leve encaderna,
Baderna numa ordem que complementa.

 Estica-se toda; em linha se lança,
Alcança com a asa uma livre trova,
Aprova-se, outra entrelinha desova.

E tudo é leveza, em altura avança,
Trança verso, anseio, ventania,
Estesia, voa, voa poesia!

ღRaquel Ordonesღ #Ordonismo

Pequena Gigante

Pequena gigante

E nasceu pequenina ali no canto,
Era encanto, desde ontem no arrebol,
Um farol em meio ao verde, algo santo,
Espanto! Tal qual, diminuto sol.

Coisa miúda, gigante beleza,
A leveza ao vento no seu balé,
Ao ré dó, fá, lá, mi em delicadeza,
Proeza efêmera içada no pé.

Maré de nuança, ilhada à moldura,
Formosura, flor, feliz e feitiço,
E num reboliço de vida em viço.

Seu compromisso era só a candura,
Pura aos olhos, de coisinha tão bela.
Ela-me, aquela minúcia amarela.

Raquel Ordones  #Ordonismo

O seu silêncio

O seu silêncio

Em nada me incomoda a sua ausência,
Minha aparência tem o mesmo tom,
Nem batom nem alma há divergência,
Em coerência, nossa música tem som.

O seu silêncio me faz um barulho,
Debulho-me; então sobra só saudade,
E da disparidade não me orgulho,
Mergulho em mim; com você na cidade.

Sentimento vive em ambas as partes,
Reparte-me do seu jeito que me ama,
 Essa chama que enflora é sem gama.

Creio, não somos apenas encartes,
Baluarte é nosso sentir liberto,
Longe e perto amamos; com elo aberto.

Raquel Ordones  #Ordonismo

Amor incondicional

Amor incondicional

Amo-te além do humano e distância,
E numa constância que me alivia,
Além-poesia e de toda substância,
Fragrância de eterno em sinestesia.

Amo-te de presente e de pretérito,
Sem inquérito, de jeito imortal,
E num quintal de sentimento emérito,
É mérito de alma, além do carnal.

E por amar-te assim, de amor escorro,
Morro acima em nuança violeta,
Borboleta ao vento, dual faceta.

E por amar-te assim, de nada corro,
E socorro então eu peço, lexical,
Verbal não, se ama, e é incondicional.


Raquel Ordones #Ordonismo

Primaverei


Primaverei

Desnudada da ocorrida estação,
A floração agora assalta meus eus,
Deus de perfume, cor, adubação,
Ação que desabrocha geniceus.

E na mente tais caules cambiantes,
Radiante esverdear de esperança,
De nuanças e olores em rompantes,
Predominantes matizes em dança.

E voam de mim, pétalas indrisos,
Palco riso, borboleta, alforria,
Escorria-me poesia e a alma sorria.
,
Primaverei em galho aberto de abraço,
Em compasso raiz._ Botões rebolem!
Colem-me versos num gozo de pólen.

Raquel Ordones  #Ordonismo


Leveza


Leveza

Vento e perfume, homogeneidade,
Numa liberdade tão colorida,
Vida, pétalas, folha, alacridade,
Em sonoridade calada e lida.

O pouso elegante e sutileza,
Em leveza de estrelinhas aladas,
São fadas minúsculas de beleza,
Inibe a tristeza; dá umas ‘troladas. ’

A brisa agita, em pleno mormaço,
O espaço adiante é contemplação,
 Clarão se decora em cabal emoção.

É dança diária no regaço,
Compasso e colorações da janela.
Belas borboletas tingindo a tela.

Raquel Ordones  #Ordonismo

A criança que há em mim

A criança que há em mim

A criança que há em mim é um tanto travessa,
Espessa vontade, ilimitado seu sonho,
De risonho coração, que sua alma o obedeça,
E cresça em caráter, o saber lhe proponho.

E nas folhas dos livros joga amarelinha,
Em cada linha devorando guloseima,
E teima claro; pois a vida é cirandinha,
Rouba bandeirinha, pula corda e nem queima.

E sobe no galho alto estima; não escorrega,
Em cabra cega a vejo ninando a boneca,
É sapeca em sorriso e levada da breca.

E no dia-a-dia vive a brincar de pique-pega,
Esfrega a lâmpada libertando a alegria,
Faz estripulia, roda peão em poesia!


Raquel Ordones  #Ordonismo

Epitáfio

Epitáfio

E jaz aqui, alguém que ainda existe,
Resite uma extenuação corpórea,
Estentórea a poesia então persiste,
Aviste palavras, rebenta arbórea.

Jaz aqui um principiante de letras,
Em fenestras linhas deixadas da alma,
Palma de flores, carnes defenetras,
Deixa borboleta herança de calma.

E jaz aqui um coração espalhado,
Juntado em versos que o vento carrega,
Segrega: corpo e essência: desapega.

 Jaz nesse canto um espírito amado,
Versado sem amargura sequer,
Requer desvelo; sensível mulher.

Raquel Ordones  #Ordonismo




quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Ela...


Para o poeta 
A nuvem é bem ali
Nas asas da imaginação!

#Ordonismo

Escrevendo-te

Escrevendo-te

Enquanto escrevo, tanto te imagino,
E peregrino-te em meu pensamento,
Momento ímpar em frêmito supino,
Libertino querer, meu experimento.

Imagino tanto, enquanto te escrevo,
E se devo não sei, saber não quero,
Um sincero sentir; então me atrevo,
Enlevo de carne, alma, tanto esmero.

Enquanto te imagino, muito escrevo,
O frevo que do meu dentro se abrolha,
Desfolha-me inverno, no verão molha.

Há coisas que imagino; nem te escrevo,
Descrevo-te em linha, me desalinha,
É na entrelinha que a alma te sublinha.

ღRaquel Ordonesღ

Visceral

Visceral

É que existe uma fome que rumina,
Bulina a alma que se faz inquieta,
Dieta quebra, a vontade culmina,
Vitamina-se ao corpo que a tieta.

É que permanece a fome que engole,
Dá mole o querer que a carne rasga,
Engasga a pele no toque que a bole,
Cole boca na boca e desengasga.

É que existe uma fome do teu alpiste,
Despiste gaiola, a tez arranha,
Apanha do cio que se arreganha.

É que existe uma fome que persiste,
Feito riste que suporta a cobiça,
Atiça a lasciva que a entranha eriça.

Raquel Ordones

Ingenuidade

Ingenuidade

Quando criança; achei que mãe era eterna,
Lanterna em cada dia da vida,
Mas ferida aqui dentro de mim; hiberna,
Encaderna-me sempre, não esquecida.

Quando criança, um medo de escuro,
Um muro psicológico erguido,
Destemido eu, atravessei, mas foi duro,
Asseguro: foi um tanto padecido.

Quando criança, um medo se morria,
Não podia respirar sob o chão,
E o bicho-papão era situação.

Assobio a noite, cobra atraía,
Não podia brincar com fogo e chama,
_Não reclama se faz xixi na cama!


Raquel Ordones

E que seja...

E que seja...

Então, a vida por si já é uma mudança,
Ignorância eleger resistência,
Não há permanência em passo de dança,
Na andança é que evoluciona a essência.

Ser a vela é tão somente ser vela,
Até bela em uma ornamentação,
E se não acesa, em coisa alguma anela,
Não revela a que veio, sem razão.

Ser vela é permitir a queima, luz,
E seduz-se, inda com dor em nobreza.
Na certeza da efêmera fineza.

Lesa é não aceitar o fósforo que poli
E não é mole ser assim verdadeira,
Na eira e beira, que seja por inteira.


Raquel Ordones

Núpcias

Núpcias

As linhas estão de branco; vestidas,
E sentidas palavras, no inspirar,
Num carregar de flores coloridas,
Devida entrelinha, dama a abismar.

No altar, palavra espera bem trajada,
E nada impede esse tal casamento,
Juramento em expressão apaixonada,
Alada a alma voeja ao firmamento.

As linhas estendem as mãos e o dedo,
Sem segredo as palavras põe a aliança,
Lança verso virginal em furança.

Alcança-se o alvo e sem qualquer medo,
Ledo, palavra e linha; beijo, céu,
Sem véu a poesia; em lua de mel.

Raquel Ordones

Momento

Momento

E se puder... Sente ali no chão e observe,
Reserve um tempinho para essa entrega,
E prega os olhos no céu e lá conserve,
Com verve o infindo na alma descarrega.

Da pequenina estrela, veja o brilho,
Siga o trilho se lhe mostrar cadente,
Tente uma canção, que seja o estribilho,
Puxe o gatilho paz, dela vertente.

Ainda que escuro esse teto é azul,
O cruzeiro do sul, perfeito aquário.
Cenário - turnê, pouso imaginário.

Se puder, sinta o orbe, sinta-se soul,
Sul e norte do seu céu, vento e lua,
Nua, vista da completude crua.


Raquel Ordones

O que eu quero?

O que eu quero?

Que a vida me atropele em coisa boa,
Abençoa-me e tudo a minha volta,
Solta amarras; que musica ressoa,
Entoa borboleta em minha escolta.

Alma que entrelaça; troca sincera,
Era inacabada de chocolate,
Desate a flor de afeto sem espera,
Gera tropel no coração; que bate!

Eu quero da vida livros bons sim,
Marfim de fato em cada gargalhada,
Amada, amando; de chuva molhada.

Poesia, sorvete, orgasmo, enfim,
Para mim, a vida é essa sutileza,
Fineza é não dar ênfase à tristeza.


Raquel Ordones