quinta-feira, 30 de abril de 2020

Saudável soneto?


Soneto saudável?
 
Grilado: qual é a minha postura?
Gordura nas rimas, verso suado?
Calçado em pensamento sem cultura?
Fervura; ideia em cadarço folgado?
 
Dado soneto: qual minha textura?
Largura, métricas: eu sou bombado?
Calado o lírico, nervo em ruptura?
Dura o equívoco do peso pesado.
 
Alado exercício; emoção perdura?
Apura o arremeço; cerne pelado?
Ligado a técnica, a mente costura.
 
Fura repetição; leitor tocado?
Deslaçado voar solta a leitura.
Temperatura: poema eriçado.
 
Raquel Ordones #ordonismo

Copo e taça


Copo e taça
 
 
Graça; causa inveja à silhueta.
Borboleta tão leve, dedo abraça.
Enlaça charme, vinho; violeta.
Gorjeta cheia; limpidez da taça.
 
Cachaça derrama, cheio de treta.
Careta: entorna-se o copo na raça.
Embaça as vistas e até pirueta.
Gaveta da alma abre; trinca vidraça.
 
Arruaça, voz alta, e já: sarjeta.
Caneta se perde em trilho da praça.
Devassa a mente; e é tão de veneta.
 
Planeta ‘chic’, cálice figuraça.
Pirraça o copo, serventia: teta.
Faceta díspar pra mesma bagaça.
 
Raquel Ordones #ordonismo
 
 

Sísmico ruído

Sísmico ruído
 
Devido a separação social.
Parcial, total, agora vivido.
Reduzido abalo: auto e pessoal.
Essencial movimento exigido.
 
Diminuído poluir geral.
Normal o globo sentir retraído.
Medido hoje sossego atemporal.
Individual: pouco. Uni: ofendido.
 
Ouvido da terra, asseio, afinal.
Portal para escutar outro estalido.
Sacudido ou terremoto mortal.
 
Moral: o planeta está aturdido.
Ferido tímpano, sofre total.
Viral devolve sísmico ruído.
 
Raquel Ordones #ordonismo
Uberlândia MG – 30/04/2020
 

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Comprando o jardim de Cecília

Comprando o jardim de Cecília
 .
Quero do seu jardim todas as flores.
Cores e borboletas em esmero.
Bolero de passarinhos; calores.
Bicolores ovos, ninhos eu espero.
Impero-me dona; sinto os olores.
Tremores felizes, e imo sincero.
Quero caracol, raio de sol, pores.
Pudores a lagarto; primavero.
 .
Paquero a estátua, a hera no muro: amores.
Favores: o formigueiro então acero.
Parcero-me ao sapo; benfeitores.
Primores: canção da cigarra: mero.
Reitero o grilinho com seus valores.
Leitores: remato tudo e sem lero.
Raquel Ordones #ordonismo
Uberlândia MG – 20/04/2020
 
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Singela homenagem a Cecília Meireles

Leilão de Jardim


Quem me compra um jardim com flores?
borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis
nos ninhos?

Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?

(Este é meu leilão!)
 
Cecília Meireles
 

segunda-feira, 13 de abril de 2020

"Poesenhando"

‘Poesenhando’
 
Risco para cima, risco pra baixo.
Encaixo outro risquinho bem no meio.
Feio meu rabisco e tão cabisbaixo.
Debaixo não descubro, inda não leio.
 
Receio: é mal feito; o risco enfaixo.
Abaixo e olho outra vez: então chuleio.
Veio à mente: no traço um rebaixo.
Embaixo de novo, tento o releio.
 
Alheio a cartum, poema esculacho.
Racho meu bico, de mim, eu rio: háhá.
Lá pelas maluquices me sinto; eu acho.
 
Facho abaixo: peço ajuda a Oxalá,
_Rapá, não é de vê que eu li o diacho!
Agacho e vejo o meu ‘poesenho’: o A.
 
Raquel Ordones #ordonismo
Uberlândia MG