quinta-feira, 19 de maio de 2016

Não há provas de amor

Não há provas de amor

E não há provas de amor, essa dissertação eu defendo,
Não há nenhuma inscrição, não se estuda para senti-lo,
Não há data agendada, nem hora, isso é certo, emendo,
Ao contrario, não há isolamento; expõe-se ao admiti-lo.

E não têm alternativas A e B quando o amor toma conta,
Nem falso e nem incorreto, múltipla escolha nem pensar,
Suas questões são objetivas, uma opção única ele aponta,
Numa linguagem clara, ainda que estrangeira versa amar.

Não se prova o amor, sente-se, a atitude vem impensada,
Conhecimentos gerais, específicos não lhe dão definições,
Se forçar amostrar-se, foge concordância e interpretações.

E nenhuma das alternativas anteriores justifica em nada.
Não se ama mais ou menos, ama-se, emoção que negrita,
E não há provas de amor, por si ele é mor, ele se gabarita.

Raquel Ordones
Uberlândia MG – 17/05/16

Soneto infiel – sem métrica

De “saco cheio”

De “saco cheio”

Então, como sempre resolvi escrever um poema,
E usei a estrutura do soneto, porque gosto afinal,
Jamais pensei que isso me acarretasse problema,
Sem métrica e sem me prender a contagem e tal.

Dois quartetos e dois tercetos, traindo a métrica,
Batizei esse escrito com o nome de Soneto infiel,
Aparadas pontas dos versos, conteúdo e estética,
Não são letras em linhas sem nexos jogadas ao léu.

Não é tão fácil assim, mas talvez não fosse aceito,
Sabe-se que a mudança chateia o rótulo e o clichê,
E se a mente é pequena a nova roupagem não vê.

Soneto tem suas regras, mas houve o preconceito,
Coloquei um lembrete no fim para quem viesse ler,
Se poesia é livre, da forma que quiser vou escrever.


Raquel Ordones
Uberlândia MG – 18/05/16
Soneto infiel – sem métrica

Perfume de almas

Perfume de almas

As nossas almas eram para serem assim: flores,
Providas de botões vivos, de pétalas aveludadas,
Macias a serviço do destino com os seus odores,
Desfraldando aos ventos nas manhãs ensolaradas.

As nossas almas poderiam constituiu um jardim,
Carregado de néctares, abelha de galho em galho,
Polinizações e borboletas com beija-flores enfim,
Perceptibilidade de raio de sol na gota de orvalho.

Num leva e traz de sementes, num espalhar vidas,
Ornando altares de corações sempre em folguedos,
As nossas almas deveriam ser flores e sem medos.

Nossas almas eram para serem assim, sem feridas,
Perfume que esparge de concentrado sentimento,
Beleza de mãos postas e ajoelhada... Sem lamento.

Raquel Ordones
Uberlândia MG – 16/05/16

Soneto infiel – sem métrica

Das loucuras de mim

Das loucuras de mim

 As malas das minhas ideias desarrumadas; arrumo,
 Tento divisar uma ordem, qual a relevância de cada,
Dobro e desdobro, então aliso para sentir o aprumo.
Abstruso, cada uma tem valor, nenhuma descartada.

Algumas ideias passageiras, outras sempre martelam,
Algumas são meio insanas, outras são tão coerentes,
Algumas são rasas, outras na alma e coração anelam,
Umas são meio tolas; já outras tão surpreendentes.

Fico ali horas tentando nessa minha louca arrumação,
E coloco-as num canto, no meio, em cima e em baixo.
É tão melindroso, um quebra-cabeça, quase o encaixo.

E aparentemente em mim quase percebo a evolução,
E puxo o fecho éclair em torno dessa minha bagagem,
Inútil, sento em cima, tudo bagunçado, que bobagem!

Raquel Ordones
Uberlândia MG – 15/05/16

Soneto infiel – sem métrica

Escre(v i)ver

Escre(v i)ver

E estou eu aqui mais uma vez em meio aos meus versos,
Escrevendo coisas já escritas, mudando palavras de lugar,
Depositando tempero por todas as direções e anversos,
Ditando meus textos para mim, num constante requentar.

Às vezes tiro muitos sentimentos e mostro-lhes a caneta,
E ela entende perfeitamente e os translada para o papel,
Sinto-me vasculhada por mim, a alma é remexida gaveta,
Vejo-me em cores sentada no meio fio com tinta e pincel.

É... Então escrevo; a saudade de você me joga nesse jogo,
Do amanhã não sei, agora eu sinto, o ontem me marcou,
Não varro, no meu verso e reverso seu cheiro se tatuou.

Por vezes me sinto valente, pois engulo lágrimas de fogo,
Brigo com algumas, mas choro, porém o sabor não é bom,
Decidi, para você meu sorriso; orna mais com meu batom.

Raquel Ordones
Uberlândia MG 14/05/16

Soneto infiel- sem métrica

Transparecendo-me

Transparecendo-me

Em cada passo dos meus andares busco conhecer-me,
Por entre estradas de pó dos meus eus e os seus egos,
E a chuva de anseio de minha alma goteja a verter-me,
Fixada em mim, de mim não se desprendem os pregos.

Cada segundo que me acomete; sou novidade em mim,
Singro na dianteira, o que levo é carga somente minha,
Freqüento por entre os ventos de tantos cheiros enfim,
E misturo-me às pétalas do meu vestido que me alinha.

Eu sou corpo, sou pele em arrepio, até superficialidade,
Às vezes imo e alma, pois imirjo na minha profundeza,
Às vezes engulo às vezes engolida, pudim sobre a mesa.

E nas redondezas de mim, coisas baldias têm tonalidade,
Às vezes me bulinam, nas rédeas de mim faço endereço.
Transparecendo-me, da vitrine do coração ao seu avesso.

Raquel Ordones
Uberlândia MG – 12/05/16

Soneto infiel – sem métrica

Ei... Esse poema é para você!

Ei... Esse poema é para você!

Ei... Esse poema é para você que tem tanta coisa guardada,
E que jamais confiou a ninguém o seu ser e a sua essência,
Esse é para você que rolou na cama no meio da madrugada,
Esse é para você que transforma amor na sua jurisprudência.

Para você que chora no chuveiro;  a lágrima corre pelo ralo,
Que fica horas com o telefone na mão sem coragem de ligar,
Para você que se faz pedra; mas o cair da pétala causa abalo,
Esse é para você que ama... Sem definitivamente nada cobrar.

Esse é para você que é pura poesia, jamais disse para o lápis,
É para você que jamais se consentir ser impresso num papel,
É para você que fala com estrela e lua e busca alguém no céu.

Esse é para você, que se recolhe em si, mas seu sentir é ápice,
Para você que ama em camuflagem escorrendo por seus olhos,
Ei... Esse poema é para você que é amor em flor e aos molhos.

Raquel Ordones
Uberlândia MG – 12/05/16

Soneto infiel – sem métrica

Estrel(a) mor

(imagem do Google)

Estrel(a) mor

Então, o amor é assim: mais ou menos como o sol,
Nasce no primeiro raio de olhar, na manhã de nós,
Pela frestinha da janela, por entre as folhas é farol
Iluminando os nossos quartos e dando à alma, voz.

Deixa o dia mais intenso, aquece tardes e coração,
Faz no peito sombras para um merecido descanso,
A tez torna-se morena, a hora do Ângelo é oração,
Seca enxurrada de lagrimas e faz do cerne, manso.

O amor é assim como o sol e nos liberta do escuro,
Claridade que segura nossas mãos pelos caminhos,
Beija por inteiro nossa flor e secar nossos espinhos.

Melhora a nossa natureza e clarifica atrás do muro,
Faz a gente assim pateta quando desnuda seu véu,
E lançamos olhares abobados para horizonte e céu.

Raquel Ordones
Uberlândia MG –03/05/16

Soneto infiel – sem métrica

Novos ares

Novos ares

 Às vezes paro na porta de mim e me assento a pensar:
_O que será que irei encontrar após descer os degraus?
Fico ali absorta com o sol quase no meu pé a me tocar,
E um vento lá adiante nas águas tocando aquelas naus.

Dou passos adentrando na varanda do meu pensamento,
Sinto que a brisa já vem tirando a poeira, dando conforto,
E um cheiro de mofo passa por mim em desprendimento.
Aquelas coisas de mim sem viés, aquele lance meio torto.

Um sopro do vento se amorna ao sol, respiro novos ares,
Permito-me mais um passo e sinto seiva de restauração,
Desço mais um degrau e já no quintal é aliviada a tensão.

É; às vezes paro na porta de mim; e sinto os meus olhares,
Deveria me jogar, sei que é exatamente disso que preciso,
Quando faço isso careço respirar, por dentro chove granizo.

Raquel Ordones
Uberlândia MG – 02/05/16

Soneto infiel – sem métrica

Dos entulhos de nós

Dos entulhos de nós

Dia após dia amontoam-se poeiras na entrelinha,
 Parede da nossa poesia é disfarce não sei de quê,
E vão se acrescentando tal qual uma erva daninha,
E se a gente não faz limpeza, mal dá para nos ler.

A argila faz-se crosta, o sol vem e o resseca então,
E a nossa paisagem autêntica não mais se retrata,
Feito uma embalagem há tempos jogada no chão,
Majorada de pó, nos esbarrões a descascar a lata.

E se chovemos; a poeira é limpa, mas cresce lodo,
A solidão, a tristeza, o medo sem dar qualquer flor,
É uma casca crespa que pode até reprimir o amor.

A dica para tais destroços: somente passar o rodo,
Literal: nas janelas dos olhos, no fundo do coração,
Brilha alma, linha, entrelinha, restaura composição.

Raquel Ordones
Uberlândia MG – 01/05/16

Soneto infiel – sem métrica

Amor a três

Amor a três

Agora ela passeia assim: só no meio,
Uma mão é do amor, outra é do rival,
 É abusada, não tem nenhum receio,
E se acha, sem notar que é tão trivial.

A olhada no rival e um beijo no amor,
Ou vice versa; é absorta sua atenção,
E não é cem por cento em seu fervor,
Nem percebe ser falha sua dedicação.

Um afago no amor, no rival um toque,
E cada um em um verso do tal terceto,
É estranha relação, motivo de coreto.

Momentos íntimos tão sem enfoque,
E para o motel o leva; da mão não sai,
Afoita, pede na recepção a senha wifi.

Raquel Ordones
Uberlândia MG – 30/04/16

Soneto infiel – sem métrica

Imaginação desabotoada

Imaginação desabotoada

Ela se lança por ai e quase sempre: voa,
Tecidos leves, com cores; é transparente,
Assim meio louca e de repente nem côa,
Mas sabe classificar para ficar coerente.

Minha imaginação é total e sem noção,
É tanta proeza; atrás da pedra, enxerga,
É minha, porém, vive fora de obtenção,
Não tem um pingo de medo, nem verga.

Quebra impedimentos, continua intacta,
Cola e recola cacos, sem nenhuma noia,
Não tem cansaço, e tampouco usa tipoia.

E nalgumas cenas arrepia, quase impacta,
Bicos e seios rijos em vento e disparada,
Sem timidez alguma avança desabotoada.

Raquel Ordones
Uberlândia MG – 28/04/16

Soneto infiel – sem métrica

Poesia é ‘O bicho pegando’

Poesia é ‘O bicho pegando’

_Hoje me deu preguiça de escrever. Não, não, minto!
É claro que a poesia nesse estado crítico não me deixa!
Ela me encoraja, então eu logo já escrevo o que sinto,
Às vezes invento muitas coisas, mas ela nem se queixa!

A poesia me lava a alma, jamais me deixou em solidão,
Sabia que ela é ponte entre meu imaginário e meu real?
Pois é, às vezes rasa, e quase sempre coisas do coração,
É uma necessidade de expressar, é um sentir-me total.

Então, poesia é jorrar de essência, um dom admirável,
Quando me vejo já estou rimando no meu automático,
Escrevo letras em cores, ora desenho monocromático.

A poesia é um manancial, em mim é quase inesgotável,
É algo que dá cor, olor, sabor, até dá vida as secas folhas,
Extrato que vem dos meus eus; e eu não tenho escolhas.

Raquel Ordones
Uberlândia MG – 27/04/16
Soneto infiel – sem métrica