sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Falo sério

Falo sério

Eu que dito as minhas notas, escrevo meu poemas,
Rabisco algumas melodias e registro até missiva,
Em contrapeso, a vida me escreve os meus dilemas,
Tornando-se tão intensa, e em absoluto, expressiva.

Aí está a graça da vida, na alma em encantamento,
Essa coisa contra minha vontade, é que me fascina,
Não saber definir com precisão o itinerário do vento,
Ou porque se matar sonhos, a gente se ‘auto chacina’.

Pense se a gente pudesse talhar caminho para o sonho,
Atropelando toda a ação que faz do sonho, um sonhar,
É como se no ato do pingo, a flor repelisse o orvalhar.

E se a gente tivesse certeza de tudo? Chato, suponho!
Essa dúvida que a vida me dá é justamente a poesia.
O charme do mutável causa-me essa irrestrita euforia.


Raquel Ordones
Uberlândia MG – 06/01/2016
Soneto infiel – sem métrica

Nas ruas de mim

Nas ruas de mim

Canteiros mantidos limpos com flores,
Folhas secas do passado são varridas,
Fachadas de emoções em lindas cores,
Na alma doação de sombras despidas.

As ruas de mim têm mão dupla, sabia?
Há quem sobe, além disso, quem desce,
Dia e noite o trafego intenso de poesia,
Sentimento mendigo lá não permanece.

E nas ruas de mim não existe estreiteza,
Placa de Pare para tudo que é mal feito,
Ao coração, a preferência, ele é prefeito.

Todas as ruas de mim têm saída, beleza?
Estacione onde quiser; e já digo, eu multo!
E me pague ali no escurinho, sem tumulto.


Raquel Ordones
Uberlândia MG – 26/01/16
Soneto infiel – sem métrica

Tecendo texto

Tecendo texto

O meu pensamento se desenrola,
Nele há vários fios; multicolores,
Em  cada linha desnovelo a bola,
Entrelinha se costura em amores.

E em vermelho, alinhavo a paixão,
O verde, esperança no esquema,
Amarelo, brilho para a formatação,
E o sentir é translúcido no poema.

Ponto a ponto eu bordo uma paz,
E a tristeza é cosida bem distante,
O ponto cruz eu ato o importante.

Carinho eu afixo com ponto atrás,
Arremato muito bem com alegria,
Então: assim teço a minha poesia.


Raquel Ordones
Uberlândia MG – 20/01/16
Soneto infiel – sem métrica

Nosso filme

Nosso filme

Antes de começar já foi amor à primeira vista,
Acho que muito antes das idéias e da gravação,
No transcorrer de cada minuto foi só conquista,
A gente estrelava; nossa particular constelação.

Não sei definir qual o gênero dessa ímpar obra,
Nossas cenas se cruzam pelas câmeras da vida,
Em um cenário de mundo onde ninguém cobra,
Onde o amor é realmente amor, na alma sentida.

Mocinho ou bandido? Adoro ver os dois atuar,
Há trechos que são indescritíveis, e nem tente!
Algo tão incondicional que impregna na mente.

Tem amor? _Tem! É sentido, sem um dia faltar,
Tem beijo? _Tem! Tem carinho com sinceridade,
Que esse filme se assista em nós pela eternidade.


Raquel Ordones
Uberlândia MG – 19/01/16
Soneto infiel – sem métrica

Hoje não TEM poesia, hoje É!

Hoje não TEM poesia, hoje É!

Hoje não TEM poesia, estou a ouvir a chuva,
E de olhos fechados, consigo sentir essa graça,
O edredom me cai exatamente feito uma luva,
E  estou  inerte para ver se o tempo não passa.

Hoje não TEM poesia, o teclado fecha a tramela,
Letras bailam em meio aos pingos do chuvisco,
E eu aqui ouvindo a cantoria de gotas na janela,
O verso inacabado observa de longe meio arisco.

Hoje não TEM poesia, o úmido se pôs em alerta,
Toda a aquarela da caneta, seca permanece, então,
E em meio ao lápis e seu grafite repousa um vão.

Hoje, minha inspiração encontrar-se boquiaberta,
E nem tão surpresa, com a alma louca em euforia,
É que Deus fez  hoje perfeito, hoje É pura poesia.


Raquel Ordones
Uberlândia MG – 14/01/16
Soneto infiel – sem métrica


Gosto do que invento

Gosto do que invento

Gosto do que invento; essa conexão com verdade,
E manipulo no pensamento tanta coisa para nós,
Gosto desse pensar , sou louca por essa intimidade,
E como é bom  inventar no meu ouvido a sua voz!

Invento lugares, invento carinho com tanto beijo,
Invento cenários lindos, onde você me traz rosas,
Eu crio olhares, palavras, tantos toques no ensejo,
Crio uma cena onde me escreve poemas e prosas.

Gosto de inventar lençóis com cheiro de lavanda,
E de me imaginar em lingerie da sua cor preferida,
Gosto de jantar a luz de vela, e de ser a sua bebida.

Gosto de me inventar; é a minha alma que manda,
Gosto de inventar coisas com você. E como gosto!
Sempre ganho nas absurdezes, comigo nem aposto,

Raquel Ordones
Uberlândia MG – 14/01/16
Soneto infiel – sem métrica




Flores, sabores e amores

Flores, sabores e amores

E a vida nos chega assim: carregada de flores,
Toda misteriosa, mas o amor é a sua essência,
E por todos os caminhos há espinhos, há cores,
Somos provisórios e nada é nossa competência.

E a vida nos chega assim: carregada de fatores,
Ah, todos eles intrometem em nossa passagem,
Alguns mais fortes do que outros, causam dores
Há  exasperados rumores e silêncio da estiagem.

E a vida nos chega assim: carregada de sabores,
Nos deliciosos momentos, em beijos eternizados,
E não tem como ficar narcotizado nos bastidores.

E a vida nos chega assim: carregada de primores,
Ambiciosos engolem pudores, seres desatinados,
E os amores assinalam nas almas os seus olores.

Raquel Ordones
Uberlândia MG – 29/01/16
Soneto infiel – sem métrica