quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Ins(pira)


Ins(pira)

Eduque tua boca,
incurável apetite,
a palavra louca
não evite!


Pula a tua língua,
não engula som,
isente a míngua
doe dom!

Esprema teu imo,
talvez não precise
afunde no limo
exteriorize!

Abra teus olhos
a caneta aperte
versos molhos
reverte...

Em poesia!

Raquel Ordones
Uberlândia MG 07/10/2015

Um sorriso pode ser só(riso)

Um sorriso pode ser só(riso)

O mais belo poema é lábios se abrindo,
Os olhos brilham juntos no mesmo tom,
E quem o embolsa percebe-se colorindo,
E toca a alma com um harmonioso som.

Mas um sorriso pode ser apenas só riso,
Algo superficial; máscara que incorpora,
Seu fechar é breve qual chuva de granizo,
Talvez doloroso, feito trotar com espora.

Sorri-se para reptar uma dor, quem sabe,
Sorri-se para provocar coagindo os nulos,
Sorri-se com verdades ou anseios chulos.

Nas entrelinhas do sorriso quase não cabe,
Seus enigmas por todas as partes dão setas,
Até são perfeitos no ‘aquarelar’ dos poetas.

Raquel Ordones
Uberlândia MG 08/10/2015

*Soneto infiel - sem métrica

Eu vi uma cobra

Eu vi uma cobra

Ela era bonita e tinha brilho,
Ligeira, mas tão peçonhenta,
Tirava todo mundo do trilho,
E tinha expressão agourenta.

Seus olhos eram tão intensos,
Mas tão sínica era a sua boca,
A língua fazia cortes imensos,
Sua mente era pequena e oca.

Destilar veneno, dom favorito,
Sentia-se rainha, forma dóxica,
Feria com sua presença tóxica,

Varria com o rabo meu escrito,
Numa vigia sem licença sequer,
Bani-a com silêncio; era mulher.

Raquel Ordones
Uberlândia MG 09/10/2015
*Soneto infiel - sem métrica

O que dizer da vida?!

O que dizer da vida?!

E a vida é isso, a vida também é aquilo,
É sonhar acordado, acordar para sonho,
É sentir-se pachorra e cabeça com grilo,
É lágrima que chuvisca de jeito risonho.

Diversidade não para, abissal toboágua,
Depois de entrar precisa-se ir até o fim,
Na alacridade, nas aflições e na mágoa,
E existem pedágios, tudo se paga, enfim.

E na vida os loucos são felizes, e loucos,
A superficialidade finge ser a profundeza,
Julgar:um ato bem cometido com certeza.

O que dizer dos instantes claros e roucos,
Desses jovens velhos, dos velhos juvenis,
Dessa pintura impar com muita gente gris.

Raquel Ordones
Uberlândia MG 15/10/15

Notas sobre ela

Notas sobre ela

Ela tinha gênio de cão, o signo de leão,
E de anta mesmo, ela só tinha sua cara,
E vez ou outra lhe parecia um garanhão,
Num galopar fogoso exibindo-lhe a tara.

Não tão bela; da garça tinha uma classe,
Tinha a delicadeza do voar do passarinho,
Às vezes uma ratinha que escondia a face,
Feito um beija flor, já pousou em espinho.

E era inteligente, não tanto como coruja,
E nem era uma águia em suas espertezas,
Porém, era dócil gata em suas gentilezas.

Coração de elefante, às vezes patinha suja,
E parece uma mula quando ela se empaca,
E não lhe tirava seu sorriso qualquer vaca.

Raquel Ordones
Uberlândia MG 16/10/15


*Soneto infiel – sem métrica

Percepções

Percepções

Há quem vê o sol... E há quem enxerga, além disso,
Há quem sente os raios brotando por entre os galhos
Há quem vê nesse gemar esperança, e compromisso,
Há quem o percebe degustando gotinhas de orvalhos.

Há quem vê a lua... E há que descobre o seu sorriso,
Há quem a faz confidente lhe conta tantos segredos,
Há quem lhe faz versos e quem declama improviso,
Há quem ainda sozinho lhe abre a janela sem medos.

Há quem vê o mar... E há quem abraça sua extensão,
Há quem sente vida nas gotas e dança em toda onda,
Há quem viaja de olho fechado; pelas águas faz ronda.

Há quem vê pessoas... E há quem distingue o coração,
Há quem sente o aroma da alma e toca na flor da tez,
Há quem mal avista e quem ama desde a primeira vez.

Raquel Ordones
Uberlândia MG 19/10/15


Soneto infiel – sem métrica

Poesia Devassa

Poesia devassa

Vive ali faceira, rondando o ócio do poeta,
Pernoita sem dar satisfações no seu baldio,
Às vezes o faz intelectivo, e ora tão pateta,
Na calçada da alma nua, de causar arrepio,

Devassa a poesia, freqüenta botecos do imo,
Para qualquer guardanapo se joga desvestida,
Em fumaças de cigarro, trago de bebida, limo,
Tonta, estonteante roça depravada, pervertida.

E bêbada de si usurpa do bardo, alta voltagem,
Na barra do coração em pole dance se esfrega,
Em salto alto e sedução; o fecundo se entrega.

E em constante cio provoca na malandragem,
Possui inteiramente aquele profundo indefeso,
Sem vergonha lançar de si o cerne outrora teso.

Raquel Ordones
Uberlândia MG 20/10/15


Soneto infiel – sem métrica

Quando a mãe fala, acontece...

Quando a mãe fala, acontece...

Quando eu era bem criança, miudeza de gente,
 Minha mãe sempre me falava de bicho papão,
Às vezes porque teimava com ela, ou indolente,
Só agora eu percebo que ela estava com a razão.

Sempre quis ver esse tal bicho, sem esperança,
É; mamãe plantava essa idéia na minha cabeça,
Tinha medo sim, mas a coragem era abastança,
Pensa que deslembrei? Errou em cheio, esqueça!

Bicho papão mora dentro das pessoas, e é feio!
Isso porque elas abrem suas portas para o cruel,
E ainda se passam por santas; só elas têm o céu.

Mamãe também me disse que isso não tem freio,
Não só no escuro; e é preciso manter-se distante,
Porque essa gente tem na alma mundo intrigante.

Raquel Ordones
Uberlândia MG 21/10/15


Soneto infiel – sem métrica

A noite não vem sozinha

A noite não vem sozinha

Traz a tiracolo os desejos,
Sonhos, fantasias e medos,
Você e eu, nossos ensejos
Traz o sufoco dos segredos.

E a noite não vem sozinha,
Traz a saudade que aperta,
Traz versos, traz entrelinha,
Deita pensamento em alerta.

Traz sossego e inquietudes,
Traz muitas estrelas e a lua,
O boêmio no blecaute da rua.

Canções tocam em plenitudes
Lençol, sono em sua regência,
Rosto e travesseiro, ardência.

Raquel Ordones
Uberlândia MG 22/10/15


Soneto infiel – sem métrica

Quero morrer num dia de chuva

Quero morrer num dia de chuva

Quando meu corpo se desprender desse solo,
Não terei a menor noção qual será o destino,
E pouco me importa, além disso, outro colo,
De nada mais me servirá. Meu cerne supino.

Quero morrer num dia de chuva, feito mágica,
Talvez minh’alma brote por ai em cada chover,
Sei que apesar de tudo a morte é assim trágica,
É inevitável;  contraria universalmente o viver.

Talvez eu fique chuviscando nalgum coração,
Nas lembranças boas, até mesmo na saudade,
Adubei minha semente; lancei-a com verdade.

Quero cerrar os meus olhos ouvindo a canção,
Das gotas sentir o aroma, beijá-las em fantasia,
Feito chuva irei, sentiras-me; jazerei na poesia.


Raquel Ordones
Uberlândia MG 23/10/15

Somente para ti

Somente para ti

As linhas que bordo para ti; são tão preciosas,
É o que de mais rico há em mim; posso te dar,
É brilhante lapidado da tez da minha essência,
Ouro extraído das serras nuas do meu coração.

São versos em fios áureos, palavras turmalina,
Rubis dos meus sentimentos em rubra paixão,
Esmeraldas de desejos e tão verdes esperanças,
Gotícula de cristal translúcida jorrada da alma.

Abro para ti esse meu baú; estendo-o à tua mão,
É extensão desse anseio; amor eu creio que seja,
Sou claraboia de abastança dessa emoção mor.

Em minha poesia; garimpe a minha riqueza tua.


Raquel Ordones
Uberlândia MG 26/10/15

Escandalosa

Escandalosa

É assim barraqueira em seus gritos,
Não guarda segredos se ovo ela bota,
E escandalosamente se faz perceber,
Espalha pena para tudo que é canto.

Argüi-se: quem aqui chegou primeiro,
Arrepiada, é mãe, cuide-se ao ataque,
Fidelidade não é importante em nada,
Abriga e cuida sob as asas, seus pintos.

Cisca minúcias engolidas para moela.
No desenho é caça elegida da raposa.

Se comida em tempero é puro deleite.
Ensopado, pizza, também na coxinha,
Um tanto gostosa essa penosa galinha!



Raquel Ordones
Uberlândia MG 27/10/15

Notas sobre o amor

Notas sobre o amor

É; o amor é esse cara com super poderes,
Que voeja por ai com suas extensas asas,
Silente; ou mensageiro de pulcros dizeres,
Adentra no interior de nós; e lá faz casas.

Faz do dia, inteira vida; da noite, sonhos,
Faz poesias ‘desrrimadamente’ com rima,
Deixa-nos elegantemente patetas, risonhos,
E em quaisquer estações é o melhor clima,

O amor é capaz de milagres, magias, cura,
É ocorrência mor, simples assim, aparece,
Muda-se para o imo, e sem nenhuma prece.

Translúcido no sentir, tocar, é tanta doçura,
Absorvente e sutil, não há nada que o mate,
Capaz de dar à cenoura, sabor do chocolate.

ღRaquel Ordonesღ
Uberlândia MG 28/10/15
*Soneto infiel – sem métrica