sexta-feira, 21 de agosto de 2020

O muro da quinta




O muro da quinta

Tinta; é tanta tinta! O muro noto.
Boto meus olhos, coisa que requinta.
Printa uma efígie, tão logo a decoto.
Broto junto; minha alma é faminta.

Extinta a escória; agora bela foto.
Adoto a cor; meu ser então se pinta.
Tilinta o coração; de encanto loto.
Borboto gradação; no cinza a finta.

Cinta é colorida; nó picoto.
Devoto-me à obra; coisa absinta.
Sucinta admiração, mas não me esgoto.

Arroto estrelas; obra é distinta.
Sinta-me dentro da arte que piloto.
Denoto-me perante o céu da quinta.

Raquel Ordones   #ordonismo

Um borralho, por favor!


Um borralho, por favor!

Orvalho sublimou, já é inverno.
Caderno é de versos; em frangalho.
Ralho com o tal vento; um frio externo.
Alterno: edredom, colcha de retalho.

Falho; a janela aberta; mas que inferno!
Terno o canto do pássaro no galho.
Espalho meu jornal; fato hodierno,
Consterno com o preço; aumento do alho.

Fornalho o moletom; então me hiberno.
Encaderno-me as meias: agasalho.
Calho na minha cama num eterno.

Moderno é meu móvel; e me esgalho.
Carvalho é madeira, estação verno
Baderno no lençol. _Sair o caralho!

Raquel Ordones #ordonismo

Senso, uau!




Senso, uau!

Montanha, nos tais seios, e tão iguais.
Carnais, febris em sua sutil manha.
Picanha e filé, quente e viscerais.
Portais de paraíso; se abre e assanha.

Banha um mar de cobiças anormais.
Espirais, curvos, retos, tez castanha.
Panha fruto; sabores e linguais.
Literais: de vontade quase arranha.

Abocanha. São mãos livres orais.
Plurais os lábios, golpe pela entranha.
Tamanha. De arrepios musicais.

Corais sentires; toque que arrebanha.
Arreganha-se a força em temporais.
Sensoriais, lascivos; nada estranha.

Raquel Ordones #ordonismo

Gravado com profundeza




Gravado com profundeza

Fazenda: uma estação feliz que exporta.
Exorta-me: é tão distante a emenda.
Entenda: quase nunca me comporta.
Conforta a imagem linda, não é lenda.

Moenda de café, no quintal a horta.
Corta o capim pro gado: uma oferenda.
Renda numa toalha; sobre: a torta.
Conforta leite e bolo na merenda.

Legenda não precisa; a ideia entorta.
Importa é a estrela do ser: prenda.
Agenda? Só folhinha atrás da porta.

Aorta via aberta: campo tenda.
Parlenda aprendi; minha alma transporta.
Reporta-se de tudo numa venda.

Raquel Ordones #ordonismo




Amanhecer na fazenda: pintura de Rui de Paula

Vento na versão feminina


Vento na versão feminina

Quisera eu ser alada feito vento.
Pensamento de flores, primavera.
Hera, som, coreógrafa, momento.
Rebento esvoaçante, doce fera.

Quisera eu ser alada, sem assento.
Evento lá e aqui, toque exagera.
Sincera no carinho, cheiro atento.
Aposento real, também quimera.

Quisera ser sem lenço e documento.   
Acento que jamais se degenera.
Paquera a vida; é seu batimento.

Vento! Quisera ser essa atmosfera.
Era uma louca, leve, movimento.
Venera asa, com uma alma tandera.

Raquel Ordones  #ordonismo



(nem a brisa, nem ventania
o vento na versão feminina)