Dos entulhos de nós
Dia após dia amontoam-se poeiras na entrelinha,
Parede da nossa poesia
é disfarce não sei de quê,
E vão se acrescentando tal qual uma erva daninha,
E se a gente não faz limpeza, mal dá para nos ler.
A argila faz-se crosta, o sol vem e o resseca então,
E a nossa paisagem autêntica não mais se retrata,
Feito uma embalagem há tempos jogada no chão,
Majorada de pó, nos esbarrões a descascar a lata.
E se chovemos; a poeira é limpa, mas cresce lodo,
A solidão, a tristeza, o medo sem dar qualquer flor,
É uma casca crespa que pode até reprimir o amor.
A dica para tais destroços: somente passar o rodo,
Literal: nas janelas dos olhos, no fundo do coração,
Brilha alma, linha, entrelinha, restaura composição.
ღRaquel Ordonesღ
Uberlândia MG – 01/05/16
Soneto infiel – sem métrica
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