segunda-feira, 11 de julho de 2016

A sós

A sós

Meus beijos guardados seriam seus,
Desnudados desejos que me causa,
Sem pausa e desabotoados eus,
Meu tudo partilhado, nossa lausa.

Na minha tez, puramente seu toque,
E sem retoque, novamente, nós.
A sós, inteiramente aptos ao choque,
Hálitos ferventes, suor, sem voz.

Nós em nós ocupa mesmo espaço,
Abraço, mãos no meu cós, louca dança,
A boca sem embaraço em andança.

Nosso dentro e nosso fora; amasso.
Laço afora, jus, mexidos lençóis,
Atrevidos e nus, estando a sós.

Raquel Ordones

Uberlândia MG – 09/07/16

Enquanto não passa a chuva

Enquanto não passa a chuva

É cedo, cubra-se no meu edredom,
Ouça da chuva o som sem tantos medos,
Sem degredo e tonto em meu batom,
Vista-se em mim, luva, descubra segredos.

Abrigue no meu dentro; faça-o teto,
Risque concreto com suas digitais,
E no meu cais aporte em céu aberto,
Transporte-me sem véu em seus pluviais.

Recolha-me em seus varais e me estenda,
Nos lençóis sem escolha o infinito,
Acolha-me em nós; desejo negrito.

Anote em mim sua tez, arme tenda,
Surpreenda-se; meu vinho de decote uva,
E outra vez, enquanto não passa a chuva.

Raquel Ordones

Uberlândia MG 11/07/16

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Arrepio

Arrepio

Ação estúpida que da gente brota,
Bota na pele algo perturbador,
É cúpida sensação que se nota,
Talvez gele; ora combustão e calor.

É prazer corporal de incertas fontes,
Certas canções, palavra sussurrada,
Acordada ou no sonho fazem pontes,
Canal risonho na tez erriçada.

Extasiante essa coisa que abarca,
E marca nosso estado por inteiro,
Raro instante cravado no ponteiro.

Orgasmo cósmico; o ser se encharca,
Um pasmo nascer de asa que espalma,
E o corpo voa para a casa da alma.

Raquel Ordones

Uberlândia MG – 22/06/16

Entrega

Entrega

E Viajo nas leves asas do meu sonho,
Em breves guinadas ou alço em pouso a sorrir,
Calço estradas; e meu cerne atreve risonho,
Enfronho, visto algo que quero desvestir.

E perco-me nessa busca, mas espero,
Coisa nula me ofusca e se quero: voejo,
A minh’alma rebusca tal estado esmero,
De lua é pintado; e palmas para seu beijo.

Cobiço o azul do seu céu, gosto e prazer,

A trazer-me reboliço desse seu rosto,
Atiço-me ao pensar: que fazer nesse posto?

Desejo suas mãos no recesso do meu ser,
E peço: ao se atrever, cuide-me nos ensejos,
Sem regresso seremos um do outro, andejos.

Raquel Ordones

Uberlândia MG – 30/06/16

Fome de amor

Fome de amor

No estômago fundo do imo; um vazio,
Frio arrimo, âmago a mirar profundo,
Um mundo de amar no limo arredio,
Falta brio, num degustar fecundo.

Fome aperta, falta-te a refeição,
Uma alerta na pauta te consome,
Some-te de ti, em alta a solidão,
E sem ação teu ‘eu’ salta; é só pronome.

Apetite voraz e nada a mesa,
Tristeza sagaz numa alma faminta,
 Fintas à paz, uma calma te pinta.

Entorna-te disponível, leveza,
Acesa e legível; em cor te tornas,
Morre a fome; amor cai como bigornas.

Raquel Ordones
Uberlândia MG – 02/07/16

Estranheza

Estranheza

Com certeza em mim algo diferente,
 Minha alma sente enfim essa nobreza
 Trauma sem fim de agudeza, atraente,
A mente bate palmas com leveza.

Louco sentimento liquefaz,
Há vento na minha paz e não é pouco,
Sem oco  aninha de jeito voraz,
E em cartaz o peito não é mouco.

Folhas que se reviram e tão leves,
São ultraleves de eus que viram bolhas,
Num perene se atreve sem escolhas.

Alheio é esse sentir e nada breve,
Deve residir-me; meio, profundeza,
Seu desvelo veio, sou só estranheza.

ღRaquel Ordonesღ
Uberlândia MG – 04/07/16


Nos fios dá miada


Nos fios dá miada

Deitada na janela, mansa e bela,
Descansa sobre ela um ar de preguiça,
Submissa à moleza; evita a viela,
E a sua esperteza ali se enguiça.

Lambe a pata então a passa no rosto,
Com gosto repassa; da gata o banho,
É tão estranho, sem caça o seu posto,
Desgosto da raça, talvez o acanho.

E alguma coisa lhe chama a atenção,
E no chão em contramão um novelo,
Um apelo lhe dá safanão ao vê-lo.

Num salto do alto, é toda expressão,
Na confusão fica toda enrolada,
Tão sem ação nos fios dá miada.

Raquel Ordones
Uberlândia MG – 05/07/16

(Nu)vens

(Nu)vens

Há nuvens coxins entre mim e o céu,
Num véu sem fim repleto de recortes,
Transporte de gotas não perto ao léu,
Certas de seu papel; leves; tão fortes.

E são breves em formas, passageiras,
Tão travesseiras sem condensação,
Entorna, no arrebol e caminheiras,
E o sol amorna o doce algodão.

Do céu não são, das estrelas distante,
Todas estações vêm trazer nos dias,
No anoitecer, chuvas são poesias.

Magia; esconde a lua fascinante,
Rua além-azul, céu contemplação,
Se as nuvens não estão lá, para onde vão?


Raquel Ordones
Uberlândia MG – 06/07/16